6.12.06

a chuva



"o vento vai dizer lento o que virá
e se chover demais a gente vai saber,
claro de um trovão,
se alguém depois sorrir em paz.
(só de encontrar...)"

Prá uns a chuva traz desgraça, pra outros é sinal de fartura, traz a salvação. Tem gente que na chuva vê poesia. Tem criança que acredita que é Deus chorando. Minha mãe me dizia que era São Pedro lavando o quintal. A chuva pode ser e representar muitas coisas. No meu caso, mais especificamente, ela é basicamente água caindo do céu. E água molha. E estraga o esforço de quase uma semana pra curar a rouquidão de uma garganta cansada depois de um show. A chuva pode ser boa e pode ser ruim. Não só nos extremos ou para pessoas com vidas totalmente diferentes, mas pra mim. Ela me ajuda a enfrentar o trânsito que ela mesma causou, porque é bonito vê-la cair, e se tiver o 4 prá escutar enquanto isso, sou capaz até de agradecer por ela ter causado esse trânsito. Tomara que ela dure o cd inteiro.A chuva traz um pouco mais de dor pra música do Los Hermanos.
Na maioria das vezes em que chove assim forte e a cidade se vê castigada, eu me lembro da noite da minha colação de grau, em 92. Foi em Dezembro mesmo, e o São Paulo, que tinha acabado de ganhar o seu primeiro mundial, naquele dia venceu o Palmeiras e conquistou o Paulistão. O Palmeiras, ainda na fila, e já com a Parmalat. Lembro que saí de casa atrasado, e fomos ouvindo todos os comentários sobre a partida no carro. Naquele tempo minha mãe não ligava muito se o Palmeiras perdesse do São Paulo, assim como até hoje eu não consigo ter essa rivalidade toda com eles. Pra mim é até natural torcer pelos verdes, desde que não seja contra o meu time.
Sempre gostei bastante de futebol, e quando tinha nove anos cheguei mesmo a curtir o São Paulo de 86, com Careca, Muller e Pita. Mas aquele time de 92 me trouxe alguma coisa a mais. Se há e se pode definir o momento na minha vida em que decidi entre ser um torcedor de verdade ou apenas um desses caras que ficam sabendo do resultado do jogo pelo jornal, se realmente é possível de se definir uma coisas dessas, acho que foi nesse dia. Porque pra mim já não bastava ter ganho o Mundial em cima do Barcelona de Cruiff, ERA REALMENTE NECESSÁRIO QUE GANHASSEMOS AQUELA FINAL! E é isso que te transforma num torcedor, é essa gana. Sonho com o dia em que eu possa assistir a um jogo do São Paulo sem me preocupar com o placar, apenas pelo prazer de ver o time jogar. E eu sei que esse dia nunca irá chegar. Isso eu aprendi na mesma hora em que eu fiz a minha escolha.Aquele dia me serviu pra muitas coisas, foi na minha colação que descobri que os amigos que tinha feito seriam aqueles com quem passaria o resto da minha vida, seriam os meus amigos definitivos. Percebi também que nenhuma daquelas garotas iria se transformar na minha garota. O que eu queria não estava ali. Meu pai teve a sua primeira crise de diabetes naquela noite, e nem pôde ficar pra me ver dançar a valsa com a minha mãe. De várias maneiras diferentes, a chuva que caiu serviu pra levar tudo o que eu tinha sido e não seria mais. Serviu pra trazer coisas novas. No fim, ficou apenas o que realmente importava, não fazendo distinção se era bom ou ruim. A chuva é assim.

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu decidi que seria um torcedor de verdade quando o Careca pegou um sem pulo no último minuto da prorrogação empatando o jogo contra o Guarani.
Foi o grito de gol mais bem dado da minha vida.
Abrassss

Anônimo disse...

Muito bonito, isso.
Legal mesmo, negrão.
Só faltou dizer que você gosta tanto do Palestra que inclusive chegou a ser palemirense na infância ( em troca de uma pipa! ).
P.S. - Que dia feliz! O Parque São Jorge penhorado pra pagar dívidas com a Receita Federal!!!
Que beleza...